·
O surgimento da Sociologia
·
Conhecimento Científico e Conhecimento do Senso
Comum;
·
O objeto da sociologia;
·
A relação indivíduo-sociedade;
·
A sociologia no Brasil
1º BIMESTRE
Por que somos
como somos? Por que agimos como agimos? Principais dúvidas que norteiam o
pensamento sociológico, principais premissas. A sociologia é o estudo da vida
social humana, dos grupos e das sociedades, e, seu objeto de estudo é nosso
próprio comportamento como seres sociais.
Para
compreendermos de que trata a sociologia temos que nos distanciar de nós
mesmos, temos que nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade a
sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é formada por nós e
pelos outros. Aquele que estuda e pensa a sociedade, o sociólogo, é ele próprio
um dos seus membros.
Justamente, a
sociologia nos mostra a necessidade de assumir uma visão sobre por que somos
como somos e por que agimos como agimos, ela nos ensina que aquilo que
encaramos como natural, inevitável, bom ou verdadeiro, pode não ser exatamente
assim, afinal nem tudo é o que parece ser, e que os “dados” de nossa vida são
fortemente influenciados por forças históricas e sociais.
Aprender a
pensar sociologicamente , significa, antes de tudo, cultivar a imaginação, um
sociólogo é alguém que é capaz de se libertar da imediatidade das
circunstâncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo.
A imaginação
sociológica (Mills, 1970), exige de nós que pensemos fora das rotinas
familiares de nossas vidas cotidianas , a fim de que as observemos de modo renovado.( Giddens, A. Sociologia,
Porto Alegre: Artmed, 2005).
Como seriam suas respostas se alguém lhe fizesse
as seguintes perguntas:
— Por que o Brasil é visto como um país em
desenvolvimento, para não dizer atrasado, em relação aos países mais ricos,
mesmo sendo uma das maiores economias do mundo?
— Por que o homem moderno cada vez mais se faz
prisioneiro do trabalho?
— Apesar de tanta riqueza produzida pelo trabalho no
sistema capitalista, por que se tem, em boa parte dos países, a maioria dos
trabalhadores em situação de pobreza?
Talvez você consiga dar boas respostas às perguntas
acima, apontando, inclusive, as origens dos problemas questionados, porém, outros,
não tendo argumentos para dar boas respostas, diriam:
“eu acho que...”.
com certeza você já ouviu a frase: “Quem acha,
pode não saber muita coisa”
Todos podemos ir além do que já sabemos, ou “achamos”
saber sobre nossa sociedade. E o papel da Sociologia como disciplina é
justamente nos ajudar nesse sentido: a percebermos, por exemplo, que fatos
considerados naturais na sociedade, como a miséria de muitos, o enriquecimento
de poucos, os crimes, os suicídios,
enfim, a dinâmica e a organização social podem não ser tão naturais assim.
Os questionamentos apresentados acima, poderão ser
elucidados pelas teorias, pelas perspectivas (visões) teóricas sociológicas, que
nos ajudarão a ver nossa sociedade de maneira muito mais crítica e com base
científica.( Sociologia / vários autores. –
Curitiba: SEED-PR, 2006. 2ª edição, Governo do Estado
do Paraná).
Desenvolvendo uma perspectiva sociológica
Considere o ato de tomar uma xícara de café, o que
poderíamos dizer, a partir de um ponto de vista sociológico sobre esse exemplo
de comportamento aparentemente comum, simples, desinteressante?
Muitas coisas… poderíamos ressaltar que o café não é
apenas uma bebida, ele possuí valor simbólico como parte de nossas atividades
sociais diárias, para muitos a xícara de café matinal ocupa o centro de uma
rotina pessoal, ela é um primeiro passo essencial para começar o dia. Durante o
dia muitos tomam café acompanhados de uma ou mais pessoas como parte de um
ritual social, duas pessoas que combinam se encontrar para tomar um café, estão
provavelmente mais interessadas em ficarem juntas, a manter uma conversa, do
que na bebida propriamente.Comer e beber em todas as sociedades, fornece
ocasiões para a interação social e para a encenação de rituais.
Outro ponto: o café é uma droga, por conter cafeína, substância altamente estimulante, que consumida em doses excessivas pode fazer mal, muitas pessoas bebem café pelo estímulo extra que esta bebida propicia. O café causa dependência, mas os viciados em café não são vistos como usuários de drogas; assim como o álcool o café é uma droga socialmente aceita, inclusive, mas recentemente comprovou-se que pode contribuir para elevar os níveis de concentração, melhorar a memória e diminuir os níveis de colestorol, contudo mesmo assim, não devemos aconselhar o consumo excessivo desta bebida.
Mais uma questão: um indivíduo que bebe café é
apanhado em uma complicada trama de relacionamentos sociais e econômicos que se
estendem pelo mundo.O café é uma bebida consumida desde os mais pobres até os
mais ricos em diversas partes do mundo, é consumido em grandes quantidades nos
países ricos, contudo cultivado nos países mais pobres, apesar da oscilação no
mercado devido a inúmeros fatores, o café ainda é, ao lado do petróleo e de
outros produtos, uma das mercadorias mais valiosas no comércio internacional. A
produção, o transporte e a distribuição
de café requerem transações contínuas entre pessoas a milhares de quilômetros
de distância de seu consumidor. Estudar essas transações globais é uma
importante tarefa da Sociologia.
Outra: O café é um produto que permanece no centro
dos debates contemporâneos sobre globalização, comércio internacional, direitos
humanos e degradação/destruição ambiental, o café tornou-se uma marca e politizou-se:
o consumidor pode escolher qual tipo de café beber e onde adquiri-lo, tornou-se
estilo de vida.Os indivíduos podem escolher entre beber somente café orgânico,
café naturalmente descafeinado, ou café comercializado “honestamente” (através
de esquemas que pagam integralmente o preço de mercado a pequenos produtores de
café em países em desenvolvimento), podem optar por ser clientes de cafeterias
independentes ao invés de “cadeias corporativas” de café como a Starbucks, os
consumidores de café podem boicotar o café vindo de certos países que violam os
direitos humanos e acordos ambientais.Os sociólogos buscam compreender como a
globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de fatos que vem
ocorrendo em diversas partes do mundo, estimulando-as, construindo conhecimentos sobre assuntos até
então desconhecidos, e a construir uma perspectiva crítica acerca de assuntos
que influenciam suas vidas direta ou indiretamente.
Quando alguém começar uma resposta com as palavras “eu
acho que...”, esta resposta pode não ser satisfatória, ou corresponder as
nossas expectativas acerca do assunto tratado. O que não significa, porém, que
ela deva ser rejeitada, ela precisa ser apurada, refinada. Por exemplo, se
alguém nos perguntasse por que em um mesmo país, observamos realidades sociais
tão distintas, poderíamos responder com base em dados, na história, na
geografia etc., enfim poderíamos oferecer uma resposta certeira, ou apenas
responder “eu acho que...” baseados no chamado senso comum.
Existem muitas outras coisas que acontecem na sociedade
e que nos atingem diretamente. E para todas essas coisas seria muito bom que
tivéssemos curiosidade para saber se aquilo que é mostrado é realmente como é. E
a Sociologia?
A sociologia contribui para que possamos entender
um pouco mais o lugar onde vivemos…
O senso comum
não deve ser rejeitado, entretanto, você pode ir além desse conhecimento comum,
neste caso, sobre a sociedade. Todos nós somos sociólogos, de uma forma ou de
outra, pois estamos constantemente refletindo acerca de nossas experiências,
analisando os nossos comportamentos e o comportamento dos outros.Avançar um
pouco mais em relação a um conhecimento elaborado e investigativo vai nos
trazer um entendimento mais claro sobre como funciona a sociedade, dentre outras
coisas.
Além do fato de que você terá maior autonomia para CONCORDAR OU DISCORDAR sobre as
questões que você vive na sociedade e não será influenciado pelo bombardeio de
informações parciais oferecidas pela mídia.Essa é a independência que queremos:
A DE REFLEXÃO.
O que é ser alienado?
Veja: se não tivermos nossa independência de
pensamento e ação, ou seja, se não conseguimos refletir sobre aquilo que vemos
e ouvimos, ou se concordamos com tudo o que acontece, com tudo o que nos é
transmitido então podemos estar vivendo de forma alienada, e, conformista.
Segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, a
alienação acontece quando o homem não se vê como sujeito (criador) da história
e, nela, capaz de produzir obras.
Para o homem alienado, e segundo esta mesma visão, a história
e as obras produzidas nela são fatos estranhos e externos a ele. E, sendo
estranhos, tal homem não os pode controlar, ficando numa posição de dominado.
Já o conhecimento pode nos fazer transformadores da história, e não apenas
espectadores dela.
A Sociologia não é redentora ou solucionadora dos
males sociais, ou dos problemas intelectuais das pessoas. Ela surge como uma
ciência que vai fornecer novas visões sobre a sociedade. Sua contribuição está
no fato de nos dar referenciais para refletirmos sobre as sociedades.
Surgimento da Sociologia: A “Gênesis
Sociológica”
Apesar da ciência sociológica ser considerada nova,
pois se consolidou por volta do século XIX, a nesessidade de se entender as
sociedades, a busca por explicações remonta de tempos antigos, tanto que na
Grécia Antiga já havia o desejo de se entender a sociedade.
No século V a.C, havia uma corrente filosófica,
chamada sofista[1], que
começava a dar mais atenção para os problemas sociais e políticos da época.
Porém, não foram os gregos os criadores da Sociologia. Mas foram os gregos que
iniciaram o pensamento crítico filosófico. Eles criaram a Filosofia que foi um
impulso para o surgimento daquilo que chamamos, hoje, de ciência, a qual se
consolidaria a partir dos séculos XVI e XVII, sendo uma forma de interpretação
dos acontecimentos da sociedade mais distanciada das explicações míticas.
Foram com os filósofos gregos Platão (427-347 a .C) e Aristóteles (384-322 a .C), que surgiram os
primeiros passos dos trabalhos mais reflexivos sobre a sociedade. Platão foi
defensor de uma concepção idealista e acreditava que o aspecto material do
mundo seria um tipo de fruto imperfeito das idéias universais, as quais existem
por si mesmas.
Aristóteles já mencionava que o homem era um ser que,
necessariamente, nasce para estar vivendo em conjunto, isto é, em sociedade. No seu
livro chamado Política, no qual consta
um estudo dos diferentes sistemas de governo existentes, percebe-se o seu
interesse em entender a sociedade.
Idade Média.
Séculos mais
tarde, no período chamado de Idade Média (que vai do século V ao XV, mas
exatamente entre os anos 476 a
1453), houve, segundo os renascentistas, um período de “trevas” quanto à
maneira de se ver o mundo, por isso a Idade Média é conhecida também por “idade
das trevas”.
Segundo eles, havia um predomínio da fé, onde os
campos mítico e religioso, tendiam a oferecer as explicações mais viáveis/aceitáveis
para os fatos do mundo. Na Europa Medieval, esse predomínio religioso foi da
Igreja Católica. Tal predomínio da fé, de certo modo, e segundo os humanistas renascentistas,
asfixiava as tentativas de explicações mais especulativas e racionais
(científicas) sobre a sociedade. Não cumprir uma regra ou lei estabelecida pela
sociedade, poderia ser entendido como um pecado, heresia, tamanha era a mistura
entre a vida cotidiana e a esfera sobrenatural.
Se olharmos a Idade Média somente pela ótica dos
renascentistas podemos entendê-la como uma época improdutiva, em termos de
evolução do conhecimento, contudo, ela também foi um período muito rico para a
história da humanidade, importante, inclusive, para a formação da nossa casa, o
mundo ocidental.
Tudo caminhava para o uso da razão
O predomínio, na organização das relações sociais,
dos princípios religiosos durou até pelos menos o século XV. Mas já no século
XIV começava a acontecer uma renovação cultural. Era o início do período conhecido
por Renascimento.
Os renascentistas, com base naquilo que os gregos
começaram, isto é, a questionar o mundo de maneira reflexiva, rejeitavam tudo
aquilo que seria parte da cultura medieval, presa aos moldes da igreja, no
caso, a Católica.
O renascimento espalhou-se por muitas partes da
Europa e influenciava a arte, a ciência, a literatura e a filosofia,
defendendo, sempre, o espírito crítico.Nesse tempo, começaram a aparecer homens
que, de forma mais realista, começavam a investigar a sociedade. A exemplo
disso temos Nicolau Maquiavel (1469-1527) que, em sua obra intitulada de O Príncipe,
faz uma espécie de manual de guerra para Lorenzo de Médici. Ali comenta como o
governante pode manipular os meios para a finalidade de conquistar e manter o
poder em suas mãos, “ O príncipe” pode ser considerada a primeira obra de
ciência política, por isso Maquiavel é considerado o pai da Ciência política.
Obras como esta davam um novo olhar para sociedade, olhar pelo qual, através da
razão os homens poderiam dominar a sociedade, longe de influências divinas.
Era a doutrina do antropocentrismo ganhando força. O
homem passava a ser visto como o centro de tudo, inclusive do poder de inventar
e transformar o mundo pelas suas ações. Além de Maquiavel, outros autores renascentistas,
como Francis Bacon [2](1561-1626),
filósofo e criador do método científico conhecido por experimental, ajudavam a
dar impulso aos tempos de domínio da ciência que se iniciavam.
Precisamos ter conhecimento da história para podermos
perceber que nem sempre as pessoas puderam contar com a ciência para entender o
mundo, sobretudo o social, que é o queremos compreender.
Dessa maneira, muitas pessoas no passado, ficaram
‘presas’ principalmente, àquelas explicações a respeito da realidade que eram
baseadas na tradição, em mitos antigos ou em explicações religiosas.
O
Iluminismo
Já no século XVIII, houve um momento na Europa,
chamado de Iluminismo, que começou na Inglaterra e na França, mas que
posteriormente espalhou-se por todo o continente, a idéia de valorizar a
ciência e a racionalidade no entendimento da vida social tornou-se ainda mais
forte.
Uma característica das idéias do Iluminismo era o
combate ao Estado absoluto, ou absolutismo, que começou a surgir na Europa
ainda no final da Idade Média, no século XV, em que o rei concentrava todo o
poder em suas mãos e governava sendo considerado um representante divino na
terra, uma voz de Deus, a qual até a igreja se sujeitava.
Com a ciência ganhando força, era inviável o fato de
voltar a pensar a vida e a organização social por vias que não levassem em
conta as considerações da ciência em debate com as de fundo religioso. Como por
exemplo, imaginar os governantes como sendo representantes sobrenaturais.
Nesse período, a continuada consolidação da reflexão
sistemática sobre a sociedade foi ajudada por autores como Voltaire
(1694-1778), filósofo que defendia a razão e combatia o fanatismo religioso;
Jean- Jacques Rousseau (1712-1778), que estudou sobre as causas das
desigualdades sociais e defendia a democracia; Montesquieu (1689-1755), que
criticava o absolutismo, e defendia a criação de poderes separados (executivo,
legislativo e judiciário), os quais dariam maior equilíbrio ao Estado, uma vez
que não haveria centralidade de poder na mão do governante.
A partir das teorias sobre a sociedade que no período
Iluminista surgiram, é que começa a ser impulsionada, ou preparada, a idéia da existência
de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria
sociedade. Consolidação do Capitalismo e a Revolução Industrial.
Estamos mudando de assunto, em parte, porém não
estamos deixando de falar do surgimento da Sociologia. Há outros elementos que
a motivaram surgir. As transformações na sociedade européia não estavam
ocorrendo somente no campo das idéias, como era o caso da consolidação da
ciência como ferramenta de interpretação do mundo.
Há também a desagregação da sociedade feudal, a consolidação do
sistema capitalista, culminando com a Revolução Industrial, que ocorreu em
meados do século XVIII, na Inglaterra, gerando grandes alterações no estilo de
vida das pessoas, sobretudo nas das que viviam no campo e do campo ou por meio
de atividades artesanais. Estes temas despertavam o interesse de críticos da
época.
Dessa maneira, quando a Sociologia iniciou os seus
trabalhos, ela o fez com base em pensadores que viram os problemas sociais
ocasionados a partir da crise gerada pelos fatos acima mencionados.
Recorrendo à História:
Podemos dizer que o início do sistema capitalista se
deu na chamada Baixa Idade Média, entre os séculos IX e XV, na Europa
Ocidental. A partir do século XI, com as “cruzadas” realizadas pela Igreja
Católica, para conquistar Jerusalém que estava dominada pelos muçulmanos, um
canal de circulação de riquezas na Europa foi aberto.
O contato cultural e o comércio do ocidente com o
oriente europeu foram retomados via Mar Mediterrâneo. Com a movimentação de
pessoas e riquezas houve, na Europa Ocidental, o surgimento de núcleos urbanos,
conhecidos por burgos. Destes, surgiram as cidades, pois existiam poucas
naquele tempo.
As chamadas corporações de ofício, que eram uma
espécie de associação comercial da época que organizava as atividades
artesanais para ter acordo entre os preços de venda e qualidade do produto, por
exemplo, começaram a aparecer a fim de regular o trabalho dos artesões que
vinham para as cidades exercer sua profissão, a idéia do lucro se fortalecia.
Mais tarde,
os europeus começaram a explorar o comércio em termos mundiais,
principalmente depois dos séculos XV e XVI e das chamadas Grandes Navegações. Por
exemplo, com o descobrimento da América, muita riqueza daqui era levada à
Europa para a criação de mercadorias que seriam vendidas nesse mercado mundial
que estava surgindo. A idéia de uma produção em série de mercadorias começava a
surgir.
As antigas corporações de ofício foram transformadas
pelos comerciantes da época em
manufatura. O trabalho manufatureiro acontecia com vários
artesãos, em locais separados e dirigidos por um comerciante que dava a eles a
matéria-prima e as ferramentas. No final do trabalho encomendado, os artesões
recebiam um pagamento acertado com o comerciante.
Os comerciantes (futuros empresários capitalistas) pensaram
que seria melhor reunir todos esses artesãos num só lugar, pois assim poderiam
ver o que eles estavam produzindo. Além de cuidar da qualidade do produto, o
controle sobre a matéria-prima e o ritmo da produção poderia ser maior.
Foi então que
surgiu a idéia da fábrica, um lugar com uma produção mais
organizada, com a acentuação da divisão de funções (hierarquização), onde o
artesão ia deixando de participar do processo inteiro de produção da mercadoria
e onde passava a operar apenas parte da produção. Desse ponto para a
implantação das máquinas movidas a vapor, restava somente o tempo da invenção
das mesmas. Quando o inventor escocês James Watt (1736-1819) conseguiu
patentear a máquina a vapor, em abril de 1784, ela veio dar grande impulso à industrialização
que se instalava, aumentando a produção, diminuindo os gastos com mão-de-obra e
aumentando o acúmulo de capital.
O sistema feudal da Europa Ocidental, estava sendo
superado. Ele não conseguiria suprir as necessidades dos novos mercados que se abriam.
O sistema capitalista, com base na propriedade privada dos meios de produção e
no lucro, isto é, na acumulação de capital, estava sendo consolidado.
A partir da Revolução Industrial (século XVIII), as
cidades da Europa Ocidental começavam a se transformar em grandes centros
urbanos comerciais e, posteriormente, industriais. Muitas delas “intumescidas”
e repletas de desempregados. O estilo de vida das pessoas estava se
transformando – para alguns de forma violenta e radical – como era o caso de
muitos camponeses que eram expulsos pelos senhores das terras onde trabalhanvam
que estavam seguindo a política de “cercamentos” de terra, para criar ovelhas e
fornecer lã às fábricas de tecidos.
Já no caso dos artesãos, esses “perdiam” sua
qualificação profissional e o controle sobre o que produziam, ou seja, de
profissionais, passavam a “não ter profissão”, pois a indústria era quem ditava
que tipo de profissional precisava ser. Não importava se fossem grandes
artesãos, só precisariam aprender a operar a máquina da fábrica, como não
tinham capital para ter uma produção autônoma e competir com a fábrica, submetiam-se
ao trabalho assalariado.
Novas e grandes invenções estavam sendo realizadas no
campo tecnológico, como as próprias máquinas a vapor das indústrias. O comércio
mundial estava aumentando cada vez mais. E em meio a isto, duas classes
distintas emergiam: a composta pelos empresários e banqueiros, chamada de
classe burguesa, e a classe assalariada, ou proletária.
A classe burguesa é aquela que ao longo do tempo veio
acumulando capital com o comércio e reteve os meios de produção em suas mãos,
isto é, as ferramentas, os equipamentos fabris, o espaço da fábrica, etc. ou
seja, eram os donos dos meios de produção,e também detinham o poder político.
Já a classe proletária, sem capital e expropriada dos meios de produção por
meio de sua expulsão dos feudos e das terras comuns, tornava-se fornecedora de
mão-de obra aos donos das fábricas.
O quadro social na Europa Ocidental do período
passava, então, por transformações profundas, provocadas pela consolidação do
sistema capitalista, pela valorização da ciência contrapondo as explicações míticas
a respeito do mundo, pela abertura de mercados mundiais e pelas divergências
ocasionadas pelas péssimas condições de vida dos operários, confrontadas com o
enriquecimento da classe burguesa. É em meio a todas essas mudanças que a
Sociologia começa a ser pensada como sendo uma ciência para dar respostas mais
elaboradas sobre os novos problemas sociais.
A Sociologia e suas teorias, se constituem como ferramentas
de reflexão sobre a sociedade industrial e científica que surgia. Sociologia /
vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2ª edição, Governo do Estado do Paraná, 2006.)
2º BIMESTRE
AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS NA
COMPREENSÃO DO PRESENTE
Auguste Comte (1798-1857), foi quem criou o termo “sociologia” a partir da
organização do seu curso de Filosofia Positiva. O que desejava Comte com esse
curso?
-Ele pretendia
fazer uma síntese da produção científica, ou seja, verificar aquilo que havia
sido acumulado em termos de conhecimento, bem como os métodos das ciências já
existentes, como os da matemática, da física e da biologia. Ele queria saber se
os métodos utilizados nessas ciências, os quais já haviam alcançado um “status”
de positivo, poderiam ser utilizados na física social, denominada, por ele de
Sociologia.
Este pensador era de uma linha positivista, o que quer dizer que acreditava na superioridade da
ciência e no seu poder de explicação dos fenômenos de maneira desprendida da
religiosidade, como era comum se pensar naquela época. Como
positivista ele acreditava que a ciência deveria ser utilizada para organizar a
ordem social.
Na visão do conhecido “Pai” da Sociologia, naquela
época, a sociedade estava em desordem, orientada pelo caos. Devemos considerar
que Comte vislumbrava o mundo moderno que surgia, isto é, previa a consolidação
de um mundo cada vez mais influenciado pela ciência e pelo estabelecimento da
indústria, e a crise gerada por uma certa anarquia moral e política quando da
transição do sistema feudal para o
sistema capitalista. Era essa positividade (instaurar a disciplina e a ordem)
que ele queria para a Sociologia.
Assim sendo quando Comte pensava a Sociologia,
colocava toda sua crença de que poderia estudar e entender os problemas sociais
que surgiam e reestabelecer a ordem social e o progresso da civilização
moderna. Ele queria que a Sociologia estudasse de forma aprofundada os
movimentos das sociedades no passado para se entender o presente e, inclusive, para
imaginar o futuro da sociedade.
Olhando o passado para compreender o presente, “Saber
para prever e prever para poder”.
Comte via a consolidação do sistema capitalista como
sendo algo necessário ao desenvolvimento das sociedades. Esse novo sistema, bem
como o abandono da teologia para explicação do mundo seriam parte do progresso
das civilizações. Já, os problemas sociais ou desordens que surgiam eram
considerados obstáculos que deveriam ser resolvidos para que o curso do
progresso pudesse continuar.
Portanto, a Sociologia se colocaria,
na visão deste autor, como uma ciência para solucionar a crise das sociedades
daquela época. Entretanto, Comte não chegou a viabilizar a sua aplicação. Seu
trabalho apenas iniciou uma discussão que deveria ser continuada, a fim de que
a Sociologia viesse a alcançar um estágio de maturidade e aplicabilidade.
Émile Durkheim
Continuando o trabalho iniciado por Comte, de fazer
da Sociologia uma ciência, numa visão positiva, surge o sociólogo francês Émile
Durkheim (1858-1917). Coube a ele dar à Sociologia uma reputação científica,
torna-la uma disciplina acadêmica com rigor científico foi o seu principal
trabalho.É a partir desse pensador que a Sociologia ganha um formato mais “técnico”,
sabendo o que e como ela iria buscar na sociedade. Com métodos próprios,
a Sociologia deixou de ser apenas uma idéia e ganhou “status” de ciência.
Durkheim presenciou algumas das mais importantes
criações da sociedade moderna, como a invenção da eletricidade, do cinema, dos carros
de passeio, entre outros. No seu tempo, havia um certo otimismo causado por
essas invenções, mas Durkheim também percebia empencilhos nessa sociedade
moderna: eram os problemas de ordem social.E uma das primeiras coisas que ele
fez foi propor regras de observação e de procedimentos de investigação que
fizessem com que a Sociologia fosse capaz de estudar os acontecimentos sociais
de maneira semelhante ao que faz a Biologia quando olha para uma célula, por exemplo,
vendo a sociedade como um organismo.
Falando em Biologia nota-se que o seu objeto de
estudo é a vida em toda a sua diversidade de manifestações. As pesquisas dos
fenômenos da natureza feitas pela Biologia são resultantes de várias
observações e experimentações, manipuláveis ou não.
Para a Sociologia, manipular os acontecimentos
sociais, ou repeti- los, é muito difícil, para não dizer impossível. Por
exemplo, como poderíamos reproduzir uma festa ou um movimento de greve “em
laboratório” e sempre de igual modo? Seria impossível.
Os fatos
sociais
Mas Durkheim acreditava que os acontecimentos sociais
– como os crimes, os suícidios, a família, a escola, as leis – poderiam ser
observados como coisas (objetos), pois assim, seria mais fácil de estudá-los.
Então ele propôs algumas das regras que identificam
que tipo de fenômeno poderia ser estudado pela Sociologia. A esses fenômenos que
poderiam ser estudados por uma ciência da sociedade ele denominou de fatos
sociais.
E as características dos fatos sociais são: Coletivo
ou geral ( generalidade) – significa que o fenômeno é comum a todos os membros
de um grupo; Exterior ao indivíduo (exterioridade) – ele acontece
independente da vontade individual; Coercitivo (coercitividade) – os
indivíduos são “obrigados” a seguir o comportamento estabelecido pelo grupo.
Para entender:
exemplo de um fato social: o casamento
As pessoas pensam, em um dia, se casar. Salvo algumas
exceções, pois não pensamos todos da mesma forma, certo? Mas se fizermos uma
pesquisa, veremos que a grande maioria das pessoas deseja se unir a alguém. Então
podemos dizer que o casamento é um fato coletivo ou geral, pois existe
pela vontade da maioria de um grupo ou de uma sociedade.
Mas ainda que alguém não queira se casar, a grande
maioria das pessoas vai continuar querendo, não é mesmo? - Isso significa que o
fato social “casamento” é exterior ao indivíduo. O que quer dizer que
ele se constitui não como resultado das intenções particulares dos
indivíduos, mas como resposta às necessidades ou influências do
grupo, da comunidade ou da sociedade.Não é verdade que os mais velhos ficam nos
“incentivando” a casar? “Não vá ficar pra titia, heim!”, “Onde já se viu! Todo mundo,
um dia, tem que se casar!”. Com certeza você já ouviu alguém dizendo isso.
Pois é. Esses dizeres nos levam a crer que o
casamento também é coercitivo, pois nos vemos “obrigados” a fazer as
mesmas coisas que fazem os demais membros do grupo ou da sociedade a que
pertencemos.
Todo fato que reuna essas três características
(generalização, exterioridade e coerção) é denominado social, segundo Durkheim,
e pode ser estudado pela Sociologia. Quanto ao casamento, poderíamos estudar e
descobrir, por exemplo, quais fatores influem na decisão das pessoas em se
casarem e se divorciarem para depois se casarem novamente.
O Suicídio = Fato Social
O que leva uma pessoa a se suicidar? Loucura?
Durkheim utilizou sua teoria para explicar, por
exemplo, o suicídio. O que aparentemente seria um ato individual, para ele,
estava ligado com aquilo que ocorria na sociedade.Esse pensador compreende a
sociedade como um corpo organizado, um organismo. Assim como a Biologia que
compreende o corpo humano e todas suas partes em pleno funcionamento, é de
maneira semelhante que Durkheim entende a sociedade: com suas partes em
operação e cumprindo suas funções. E, caso a família, a igreja, o Estado, a
escola, o trabalho, os partidos políticos, etc., que são elementos da sociedade
com funções específicas, venham a falhar no cumprimento delas, surge no corpo
da sociedade aquilo que Durkheim chamou de anomia, ou seja, uma
patologia (doença). Assim, como no corpo humano, se algo não funcionar bem, em
“ordem”, significa que está doente.
Andar em ‘desconformidade’ com o que seria tido como
ideal na sociedade pode ser fator altamente propício ao suicídio no Japão. Não ser
aprovado no vestibular ou se endividar podem ser exemplos de ‘desconformidade’
nessa sociedade.
A propósito desse tema, Durkheim verificou que
existem três categorias de suicídios:
Suicídio Altruísta: ocorre quando um indivíduo
valoriza a sociedade mais do que a ele mesmo, ou seja, os laços que o unem à
sociedade são muito fortes. Lembre-se do ocorrido em 11 de Setembro de 2001.
Homens, em atos aparentemente “loucos”, pilotavam aviões que se chocaram contra
o World Trade Center em
Nova York. Para Durkheim, os agentes dessa aparente “loucura”
poderiam ser classificados como suicidas altruístas, pois se identificavam de
tal forma com o grupo Al Qaeda, ao qual pertenciam, que se dispuseram a morrer
por ele. Da mesma maneira aconteceu com os kamikases japoneses durante a 2º
Guerra Mundial (1939-1945) e que, de certa forma, continua acontecendo com os
“homens-bomba” de hoje. Se você assistir ao filme “O Patriota”, com Mel Gibson,
poderá ver um exemplo de alguém que se dispôs a morrer por uma causa que acreditava
em relação ao seu país.
Suicídio Egoísta: se alguém se desvinculasse
das instituições sociais (família, igreja, escola, partido político, etc.) por
conta própria, para viver de maneira livre, sem regras, qual seria o limite
para essa pessoa, uma vez que ninguém a controlaria? Pois é, segundo Durkheim,
a falta de redes de convívio ou limites para a ação poderia levar a pessoa a
desejar ilimitadas coisas. Mas caso tal pessoa não consiga realizar os seus
desejos, a frustração poderia levá-la a um suicídio.
Suicídio Anômico: este tipo pode acontecer
quando as partes do corpo social deixam de funcionar e as normas ou laços que poderiam
“abraçar”(solidarizar) os indivíduos perdem sua eficácia, deixando-os viver de
forma desregrada ou em
crise. Um exemplo disso pode ser pensado quando, na nossa
sociedade, uma família abandona o filho, ou o idoso, ou o doente.
O mundo moderno para Durkheim
A humanidade, para esse autor, está em constante evolução,
o que seria caracterizado pelo aumento dos papéis sociais ou funções. Por exemplo,
para Durkheim, existem sociedades que organizam-se sob a forma de um tipo de
solidariedade denominada mecânica e outras sociedades organizam-se sob a
forma de solidariedade orgânica.
As sociedades organizadas sob a forma de solidariedade
mecânica seriam aquelas nas quais existiriam poucos papéis sociais. Segundo
Durkheim, nessas sociedades, os membros viveriam de maneira semelhante e,
geralmente, ligados por crenças e sentimentos comuns, o que ele chama de
consciência coletiva. Neste tipo de sociedade existiria pouco espaço
para individualidades, pois qualquer tentativa de atitude “individualista” seria
percebida e corrigida pelos demais membros.
A organização de algumas aldeias indígenas poderiam
servir de exemplo de como se dá a solidariedade mecânica: grupos de pessoas vivendo
e trabalhando semelhantemente, ligados por suas crenças e valores. Nesses
grupos, se alguém começasse a agir por conta própria, seria fácil perceber quem
estaria “tumultuando” o modo de vida local.
Outro exemplo que pode caracterizar a solidariedade
mecânica são os mutirões para colheita em regiões agrárias ou para reconstruir
casas devastadas por vendavais e, ainda, são exemplos também as campanhas para
coletar alimentos.
Diferentemente das sociedades organizadas em
solidariedade mecânica, nas sociedades de solidariedade orgânica – típicas
do mundo moderno - existem muitos papéis sociais. Pense na quantidade de
tarefas que pode haver nas áreas urbanas, nas cidades: são muitas as funções e
atividades. Durkheim acreditava que mesmo com uma grande divisão e variedade de
atividades, todas elas deveriam cooperar entre si. Por isso, deu o nome de
orgânica (como se fosse um organismo).
Mas, nessas sociedades, diante da existência de
inúmeros papéis sociais, diminui o grau de controle da sociedade sobre cada
pessoa. A individualidade, sob menor controle, passa a ser uma porta para que a
pessoa pretenda aumentar, ainda mais, o seu raio de ação ou de posições dentro
da sociedade.
Uma das maiores expressões da anomia no mundo
moderno, segundo Durkheim, seria: o egoísmo das pessoas. E a causa desta atitude
seria a fragilidade das normas e controles sobre a individualidade, normas e
controles que nas sociedades de solidariedade mecânica funcionam com maior
eficácia.
Qual seria,
então, a solução para o mundo moderno, segundo Durkheim?
Já que ele compara a sociedade com um
corpo, deve haver algo nela que não está cumprindo sua função e gerando
a patologia (a anomia, a doença). O corpo precisa de diagnóstico e remédio.
Segundo ele, a Sociologia teria esse papel, ou seja, o de encontrar as “partes”
da sociedade que estão produzindo fatos sociais patológicos e apontar para a
solução do problema. Durkheim chegou a fazer, para as escolas francesas,
propostas de valores tais como ‘o respeito da razão, da ciência, das idéias e
sentimentos em que se baseia a moral democrática, visando contribuir à
restauração da ordem social naquela sociedade.
3º BIMESTRE
Max Weber
O pensamento deste sociólogo Alemão segue diretrizes
diferentes das dos dois autores que vimos anteriormente. Max Weber (1864-1920),
ao contrário de Durkheim e Comte, acreditou na possibilidade da interpretação
da sociedade partindo não dos fatos sociais já consolidados e suas
características externas (leis, instituições, normas, regras, etc), ele propôs
começar pelo indivíduo que nela vive, ou melhor, pela verificação das
“intenções”, “motivações”, “valores” e “expectativas” que orientam as ações do
indivíduo na sociedade. Sua proposta é a de que os indivíduos podem conviver,
relacionar-se e até mesmo constituir juntos algumas instituições (como a
família, a igreja, a justiça), exatamente porque quando agem eles o fazem
partilhando, comungando uma pauta bem parecida de valores, motivações e
expectativas quanto aos objetivos e resultados de suas ações. E mais, seriam as
ações recíprocas (repetidas e “combinadas”) dos indivíduos que permitiriam a
constituição daquelas formas duráveis (Estado, Igreja, casamento, etc.) de
organização social.
Weber desenvolve a teoria da Sociologia Compreensiva,
ou seja, uma teoria que vai entender a sociedade a partir da compreensão dos ‘motivos’
visados subjetivamente pelas ações dos indivíduos.
Uma crítica de Weber aos positivistas, entre os quais
se encontrariam Comte e Durkheim, deve-se ao fato de que eles pretendiam fazer
da Sociologia uma ciência positiva, isto é , baseada nos mesmos métodos de
investigação das ciências naturais. Segundo Weber, as ciências naturais (biologia,
física, por exemplo) conseguiriam explicar aquilo que estudam (a natureza) em
termos de descobrir e revelar relações causais diretas e exclusivas, que permitiriam
a formulação de leis de funcionamento de seus eventos, como as leis químicas e
físicas que explicam o fenômeno da chuva. Mas a ciência social não poderia
fazer exatamente o mesmo. Segundo Weber, não haveria como garantir que uma ação
ou fenômeno social ocorreria sempre de determinada forma, como resposta direta
a esta ou aquela causa exclusiva. No caso das Ciências Humanas, isso ocorre
porque o ser humano possui “subjetividade”, que aparece na sua ação na forma de
valores, motivações, intenções, interesses e expectativas.
Embora esses elementos que compõem a subjetividade
humana sejam produtos culturais, quer dizer, produtos comuns acolhidos e
assumidos coletivamente pelos membros da sociedade, ou do grupo, ainda assim se
vê que os indivíduos vivenciam esses valores, motivações e expectativas de
modos particulares. Às vezes com aceitação e reprodução dos valores e normas
propostas pela cultura comum do grupo; outras vezes, com questionamentos e
reelaboração dessas indicações e até rejeição das mesmas.
Decorre dessa característica (de certa autonomia,
criatividade e inventividade do ser humano diante das obrigações e
constrangimentos da sociedade) a dificuldade de se definir leis de
funcionamento da ação social que sejam definitivas e precisas.
Por isso, o que a Sociologia poderia fazer, seria
desenvolver procedimentos de investigação que permitissem verificar que
conjunto de “motivações”, valores e expectativas compartilhadas, estaria
orientando a ação dos indivíduos envolvidos no fenômeno que se quer compreender.
Tomando como exemplo eleições, seria possível prever, com algum acerto, como as pessoas
votarão numa eleição, pesquisando sua “subjetividade”, ou seja, levantando qual
é, naquela ocasião dada, o conjunto de valores, motivações, intenções e expectativas
compartilhadas pelo grupo de eleitores em foco, e que servirão para orientar
sua escolha eleitoral. Esses pressupostos estão por detrás das conhecidadas
“pesquisas de intenção de voto”, bastante freqüentes em vésperas de eleições.
Segundo Weber, as pessoas podem atuar, em geral,
mesclando quatro tipos básicos de ação social. São eles:
A ação racional com relação a fins: o
indivíduo age para obter um fim objetivo previamente definido. E para tanto,
seleciona e faz uso dos meios necessários e mais adequados do ponto de vista da
avaliação. O que se destaca, aqui, é o esforço em adequar, racionalmente, os
fins e os meios de atingir o objetivo. Na ação de um político, por exemplo, podemos
ver um foco: o de obter o cargo com o poder que deseja com fins que dependem do
político, de seu caráter.
O que Weber
pensa sobre a política: ele nos fala no livro Ciência e Política – Duas
vocações (2002), que há dois tipos de políticos que por nós são eleitos:
a) Os
políticos que exercem essa profissão por vocação, ou seja, os que têm o poder
como meta para trabalhar arduamente em prol da sociedade que os elegeu. estes
são os que vivem para a política.
b) E os
que são políticos sem vocação, ou seja, que olham para a política como se fosse
um “emprego” apenas. São aqueles que, uma vez eleitos, geralmente se esquecem
dos compromissos sociais que assumiram, pouco fazem pelo social, trabalham
apenas para manter-se no poder a fim de continuar ganhando o salário. Weber diz
que estes são os que vivem da política.
A ação racional com relação a valores,
ocorreria porque, muitas vezes, os fins últimos de ação respondem a convicções,
ao apego fiel a certos valores (honra, justiça, honestidade...). Neste tipo, o
sentido da ação está inscrito na própria conduta, nos valores que a motivaram e
não na busca de algum resultado previa e racionalmente proposto. Por esse tipo
de ação podemos pensar as religiões. Ninguém vai a uma igreja ou pertence a
determinada religião, de livre vontade, se não acredita nos valores que lá são
pregados. Certo?
Na ação afetiva a pessoa age pelo afeto que
possui por alguém ou algo. Uma serenata pode ser vista como uma ação afetiva
para quem ama.
A ação social tradicional é um tipo de ação
que nos leva a pensar na existência de um costume. O ato de tomar chimarrão ou
pedir a benção dos pais na hora de dormir são ações que podem ser pensadas pela
ação tradicional.
A idéia de Weber para se entender a sociedade é a
seguinte: se quisermos compreender a instituição igreja, por exemplo, vamos ter
que olhar os indivíduos que a compõem e suas ações. Provavelmente haverá um
grupo significativo de pessoas que agem do mesmo modo, quer dizer, partilhando
valores, desejos e expectativas quanto à religião, o que resultaria no que
Weber chama de relação social.
A existência da relação
social dos indivíduos, ou seja, uma combinação de ações que se orientam
para objetivos parecidos, é que faz compreender o ‘porquê’ da existência do
todo, como neste próprio exemplo da igreja. É assim que, as normas, as leis e
as instituições são formas de relações
sociais duráveis e consolidadas.
Os tipos de ação, para Weber, sempre serão construções do pensamento, isto é,
suposições teóricas baseadas no conhecimento acumulado, que o sociólogo fará
para se aproximar ao máximo daquilo que seria a ação real do indivíduo nas
circunstâncias ou no grupo em que vive. Com esse instrumento, o sociólogo pode
avaliar, na análise de um fenômeno, o que se repete, com que intensidade, e o
que é novo ou singular, comparando-o com outros casos parecidos, já conhecidos e
resumidos numa tipologia.
Por exemplo, se há alguém apaixonado que você
conheça, qual seria o tipo ideal de ação desta pessoa? A afetiva! Assim sendo,
seria “fácil” prever quais seriam as possíveis atitudes desta pessoa: mandar
flores e presentes, querer que a hora passe logo para estar com ela(e), sonhar
acordado e coisas do tipo. E assim poderíamos entender, em parte, como se forma
a instituição família. Uma coisa liga a outra.
Outro exemplo. Pode ser que alguém perto de você nem
pense em querer se apaixonar para não atrapalhar os estudos. Sua meta é a
universidade e uma ótima profissão. Então, temos uma ação racional! Para esta
pessoa nem adiantaria mandar flores ou “torpedos”, a opção por não manter um
relacionamento afetivo poderia ser considerada uma ação racional com relação a
um objetivo.
Quanto ao sistema capitalista e o mundo moderno:
O que pensa Weber?
Uma contribuição relevante de Weber, neste caso, é
demonstrar que o mecanismo do modo de produção capitalista, no ocidente
europeu, principalmente, contou com a existência, em alguns países, de um
conjunto de valores de fundo religioso que ajudou a criar entre certos indivíduos,
predisposições morais e motivações para se envolverem na produção e no comércio
de tipo capitalista.
Na crença dos calvinistas, os homens já nasceriam
predestinados à salvação ou ao inferno, embora não pudessem saber, exatamente,
seu destino particular. Assim sendo, e para fugir da acusação de pecadores e
desmerecedores do melhor destino, dedicavam-se a glorificar Deus por meio do
trabalho e da busca do sucesso na profissão.
Com o passar dos tempos, essa idéia de que a
predestinação e o sucesso profissional seriam indícios de salvação da alma foi
perdendo força. Mas o interessante é que a ética estimuladora do trabalho disciplinado
e da busca do sucesso nos negócios ganhou certa autonomia e continuou a existir
independente da motivação religiosa.
Para Weber, ser capitalista é sinônimo de ser
disciplinado no que se faz. Seria da grande dedicação ao trabalho que
resultaria o sucesso e o enriquecimento. Herança da ética protestante, válida
também para os trabalhadores.
Mas por que os católicos e as outras religiões
orientais não tiveram parte nesta construção capitalista analisada por Weber?
Porque a ética católica privilegiava o discurso da
pobreza, do desapego, reprovando a pura busca do lucro e da usura e não viam o
sucesso no trabalho como indícios de salvação e nem como forma de glorificar a
Deus, como faziam os calvinistas. Assim sendo, sem motivos divinos para
dedicarem- se tanto ao trabalho, não fizeram parte da lista weberiana dos primeiros
capitalistas.
Quanto às religiões do mundo oriental, a explicação
seria de que essas tinham uma imagem de Deus como sendo parte do mundo secular,
ao contrário da ética protestante ocidental que o concebia como estando fora do
mundo e puro. Assim sendo, os orientais valorizavam o mundo, pois Deus estaria
nele. O Budismo e o Confucionismo são exemplos do que falamos. E daí a idéia e
a prática de não se viver apenas para o trabalho, mas sim de poder aproveitar
tudo o que se ganha pelo trabalho com as coisas desta vida.
Em relação ao mundo moderno (científico), Weber
demonstrava um certo pessimismo e não encontrava saída para os problemas culturais
que nele surgiam, assim como para a “prisão” na qual o homem se encontrava por
causa do sistema capitalista.
Antes da sociedade moderna, a religião era o que
motivava a vida das pessoas e dava sentido para suas ações, inclusive ao trabalho.
Mas com o pensamento científico tomando espaço como referencial de mundo, certos
apegos culturais – crenças, formas de agir – vindos da religiosidade foram
confrontados. O problema que Weber via era que a ciência não poderia ocupar por
completo o lugar que a religião tinha ao dar sentido ao mundo. Sociologia / vários
autores. – Curitiba: SEED-PR, 2ª edição, Governo do Estado do Paraná, 2006.)
Karl Marx
A crítica da
sociedade capitalista.
O alemão,
filósofo e economista Karl Marx (1818–1883), foi o fundador do materialismo histórico.Foi o primeiro a empregar o
termo “classe social. Em suas obras, Marx sugeria uma ampla mudança na área
política, social e econômica. Para ele,
o capitalismo alienou o trabalhador dos meios de produção, pois
este conhecia apenas parte desse processo; e o alienou da política, propondo
que ele fosse representado por outros.Dessa forma um dos conceitos fundamentais
na teoria marxista é a alienação.
Marx foi um dos responsáveis, se não o maior deles,
em promover uma discussão crítica da sociedade capitalista que se consolidava,
bem como da origem dos problemas sociais que este tipo de organização social
originou.
Para Marx “a
história de todas as sociedades tem sido a história da luta de classes”.
-
-Para este pensador o capital é uma relação social
"A
história de toda a sociedade até hoje", escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuando a história da comunidade primitiva, acrescentaria
Engels mais tarde), "é a história de lutas de classes. Homem livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burguesia e trabalhadores, em suma,
opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram
uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, uma luta que acabou
sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o
declínio comum das classes em luta.
Mas como assim, lutas de classe? Quais são elas? Nas
sociedades de tipo capitalista a forma principal de conflito ocorre entre suas
duas classes sociais fundamentais: a burguesia versus o proletariado.
Você lembra do que comentamos no início desta
apostila, como foi que surgiu a chamada burguesia e por que ela ficou conhecida
assim ?
Pois bem, segundo Marx, a burguesia foi tendo acesso,
a partir da atividade comercial à posse dos meios de produção, enriqueceu e
também passou a fazer parte daqueles que controlavam o aparelho estatal, o que
acabou, por fim funcionando, principalmente como uma espécie de “escritório
burguês”. Com esse acesso ao poder do aparelho estatal, a burguesia foi capaz
de usar sua influência sobre ele para ir criando leis que protegessem a
propriedade privada (particular), condição indispensável para sua
sobrevivência, além de usar o Estado para facilitar a difusão de sua ideologia[3] de
classe, isto é, os seus valores de interpretação do mundo.
Enquanto isso, a classe assalariada (os proletários),
sem os meios de produção e em desvantagem na capacidade de influência política na
sociedade, transforma-se em parte fundamental no enriquecimento da burguesia,
pois oferecia mão-de-obra para as fábricas, (as novas unidades de produção do
mundo moderno).
Marx se empenhava em produzir escritos que ajudassem
a classe proletária a organizar-se e assim sair de sua condição de alienação.
Alienado, para Marx, seria o homem que não tem controle sobre o seu próprio
trabalho, em termos de tempo e em termos daquilo que é produzido, ou seja,
seria o indivíduo expropriado dos meios de produção, coisa que o capitalismo
faz em larga escala, pois o tempo do trabalhador e o produto (a mercadoria)
pertencem à burguesia, bem como a maior parte da riqueza gerada por meio do
trabalho.
O objetivo do sistema capitalista, como modo de
produção, é justamente a ampliação e a acumulação de riquezas nas mãos dos
proprietários dos meios de produção. Mas de onde sai essa riqueza? Marx diria que
é do trabalho do trabalhador.
Exemplo. Quantos sofás por mês um trabalhador pode
fazer? Vamos imaginar que sejam 15 sofás, os quais multiplicados a um preço de
venda de R$ 300,00 daria o total de R$ 4.500,00. E quanto ganha um trabalhador
numa fábrica? Imagine que seja uns R$ 1.000,00, para sermos mais ou menos
generosos.
Bem, os R$ 4.500,00 da venda dos sofás, menos o valor
do salário do trabalhador, menos a matéria-prima e impostos (imaginemos R$
1.000,00) resulta na acumulação de R$ 2.500,00 para o dono da fábrica.
Esse lucro Marx chama de mais-valia, pois é um
excedente que sai da força de cada trabalhador. Veja, se os meios de produção
pertencessem a ele, o seu salário seria de R$ 3.500,00 e não apenas R$
1.000,00.
Então podemos dizer que o trabalhador está sendo
roubado? Não podemos dizer isso, pois o que aqui exemplificamos é conseqüência da
existência da propriedade privada dos meios de produção, nas mãos de uma classe, a burguesia.
Devemos partir do entendimento de que as coisas
materiais fazem a sociedade acontecer. De outra maneira, seria dizer que tudo o
que acontece na sociedade tem ligação com a economia e que ela se transforma na
mesma medida em que as formas de produção também se transformam. Por exemplo,
com a consolidação do sistema capitalista, toda a sociedade teve que
organizar-se de acordo com os novos moldes econômicos.
Marx também via o homem como aquele que pode
transformar a sociedade fazendo sua história, mas enfatiza que nem
sempre ele o faz como deseja, pois as heranças da estrutura social
influenciam-no. Assim sendo, não é unicamente o homem quem faz a história da
sociedade, pois a história da sociedade também constrói o homem, numa relação
recíproca.
As condições em que se encontram a sociedade vão
dizer até que ponto o homem pode construir a sua história.
Por essa lógica podemos pensar que a classe
dominante, a burguesia, tem maiores oportunidades de fazer sua história como
deseja, pois tem o poder econômico e político nas mãos, ao contrário da classe
proletária que, por causa da estrutura social, está desprovida de meios para
tal transformação. Para modificar essa situação somente por intermédio de uma revolução,
pois assim a classe trabalhadora pode assumir o controle dos meios de produção
e tomar o poder político e econômico da burguesia.
Para Marx, a classe trabalhadora deveria organizar-se
politicamente, isto é, conscientizar-se de sua condição de explorada e dominada
por meio do trabalho (consciência de classe) e transformar a sociedade
capitalista em socialista [4] por
intermédio da revolução.
Karl Marx foi influenciado pelas
idéias de Hegel, denunciou as contradições sociais e propôs formas de
superá-las. Marx escreveu junto com Engels “ O manifesto do partido comunista”,
primeira obra referente ao marxismo ou socialismo científico.
-O socialismo científico era uma teoria política e social que previa a vitória dos trabalhadores sobre a burguesia. Para Marx, a sociedade e as estruturas que surgiriam dessa revolução seriam chamadas de comunismo, e o processo de transição do capitalismo para o comunismo seria chamado de socialismo.
-O comunismo pode ser entendido como um sistema
econômico, político e social que tem por finalidade a criação de uma sociedade
sem classes dominantes, ou seja, tudo seria comum a todos, não haveria
propriedade privada.(Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2ª
edição, Governo do Estado do Paraná, 2006.)
4º BIMESTRE
O que é Senso Comum?
“(…) falsas certezas e convicções equivocadas sem a
base de um conhecimento racional ou de uma adequada compreensão, sendo ditas
pelas pessoas a todo instante sobre as mais diversas coisas. A característica
principal é a de que o senso comum baseia-se no que está aparente, na aparência
das coisas, como as coisas parecem ser.(…)” (Giglio, 2000 pag.3)
O senso
comum é caracterizado por opiniões subjetivas, individuais, generalizantes, ou
seja, julgam-se coisas, ou fatos específicos como se fossem coisas ou fatos
universais, sendo assim, consiste então em falsas certezas sem fundamentação
científica. Ao contrário do senso comum, a atitude científica sobre as
interpretações do comportamento humano e das relações sociais entre indivíduos
é expressa nas ciências sociais (
Sociologia, Filosofia,Psicologia, História etc.)
E, então, o que seria atitude científica em
Sociologia especificamente? A atitude de, a partir da constatação de um
problema social, observar os fatos e a realidade dos indivíduos e grupos, suas
relações, formular uma hipótese de explicação e, ao final, pronunciar leis ou
tendências de que um fato ocorre por um motivo ou por outro.
Vamos citar aqui o exemplo de um problema social que
atinge milhares de pessoas: o desemprego. O desemprego é um problema social
porque atinge vários indivíduos. A partir desta constatação, podemos formular a
hipótese de que a política econômica de um governo promove o desemprego; em
seguida passamos a observar a realidade com dados estatísticos em mãos,
pesquisas com desempregados, para ver os motivos que os levaram ao desemprego,
etc. ao término retomamos a hipótese e podemos verificar que a política
macroeconômica tende a provocar o desemprego em massa em um país.
ATIVIDADE I
O senso comum se
caracteriza por ser:
I. um conhecimento valorativo, em que cada
coisa ou fato nos afeta de maneira diferente.
II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número de fenômenos sob as mesmas leis.
II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número de fenômenos sob as mesmas leis.
III. um conhecimento subjetivo que expressa um saber da nossa sociedade
ou do nosso grupo social.
Dos itens acima, pode-se concluir:
A) somente
I e III estão corretos.
b)
somente II e III estão incorretos
c)
somente I está incorreto.
d)
todos estão incorretos.
e)
todos estão corretos.
Metodologia da pesquisa
No campo das ciências sociais, assim como em todo
processo científico a observação é essencial para futuras elaborações de
teorias ou conceitos , a observação é o caminho natural para o conhecimento
dentro do campo da Sociologia.
Para analisar profundamente qualquer problema social,
o sociólogo inicia o seu trabalho com a observação. Ao utilizar a observação, o
profissional sociólogo deve deixar de lado seus preconceitos, prenoções e
juízos de valor, pois caso realize a observação carregado destas informações
sua pesquisa será inválida.
A observação é
feita com o único objetivo de colher dados e fatos que tenham relação com o
assunto abordado em sua pesquisa. Inicialmente o cientista social reuni dados
“brutos” para sua pesquisa, e, posteriormente codifica esses dados e os
organiza, e após as informações são tabuladas.
A observação pode ser dividida em três tipos:
·
Observação em massa – ocorre quando o
investigador observa o comportamento de grande número de pessoas, no que diz
respeito à reunião de determinados fatos.
·
Observação sistemática – ocorre quando o
pesquisador observa por um determinado tempo, sistematicamente, os fatos de seu
interesse em um grupo específico, escolhido para a realização da pesquisa,
podendo ser direta ou indireta. A observação sistemática é direta quando os
fatos são observados pessoalmente, e indireta quando a observação ocorre
através de outras pessoas.
·
Observação participante – consiste na
incorporação do investigador dentro da comunidade que está estudando, revelando
ou não sua condição de pesquisador.Este tipo de observação é bastante
interessante, pois o pesquisador passa a participar do modo de vida do grupo
observado, integrando-se ao grupo.
Na observação participante, se o cientista vai investigar
algum tipo de seita religiosa, geralmente ele(a) converte-se a mesma, deste
modo poderá participar de tudo o que diz respeito a essa determinada seita, se
tem como objeto de pesquisa o trabalho de operários de indústrias, usinas etc.
começa a trabalhar realizando a mesma função.
A observação participante tem sido motivo de
discussões entre os cientistas sociais, pois alguns são favoráveis a este tipo
de pesquisa, acreditando que se deve sair dos laboratórios de pesquisa, das
salas de aula, dos gabinetes e ir a campo para se realizar uma pesquisa
realmente boa, enquanto outros acreditam que o fato de ir a campo pode levar o
investigador a se identificar com o objeto de estudo, uma vez que o pesquisador
se integra ao grupo estudado, comprometendo a veracidade da pesquisa.
Entretanto alguns estudiosos defendem a idéia de que
na realidade, isso não ocorre, pois essa identificação do cientista social com
o objeto estudado não desacredita sua investigação, não desacredita a
objetividade do que está sendo pesquisado, uma vez que sua objetividade não
depende exclusivamente do método adotado e sim das teorias utilizadas, bem como
do quanto é treinado.
Quando o cientista social se integra à comunidade
estudada, ele pretende observar melhor e mais profundamente a realidade social,
pois a observação por si só torna-se periférica, mostrando apenas parcialmente
a realidade do grupo estudado. Por meio da integração com o grupo, pode-se ter
uma melhor visão do que se está estudando, tornando o conhecimento mais
profundo e significativo.
Contudo nem sempre é possivel estar em contato direto
com a realidade pesquisada, mas quando há o empencilho o cientista social
poderá se fazer valer de leituras acerca do seu objeto de pesquisa, filmes,
fotos, internet etc.
Terminada a pesquisa, o cientista social precisa
elaborar seu relatório, e aí o sociólogo deverá se desvincular da realidade
pesquisada, preocupando-se apenas com a objetividade e a exatidão. Se o
trabalho for objetivo, a conclusão poderá ser comprovada por outros sociólogos
que, através dos mesmos métodos, chegarão ao mesmo resultado, ou seja, seu
trabalho deve ser verificável.
Fontes de
pesquisa:
Depois de
determinados o campo e o objeto de pesquisa, o sociólogo dá início ao seu
estudo, utilizando-se de várias fontes, como exposto a seguir:
Questionário –
o uso do questionário tem o objetivo de obter dados específicos sobre
determinada população, através de perguntas organizadas de forma clara e
conexa. O questionário não deve ser longo nem conter ambiguidades e contradições.As
perguntas podem ser abertas ou fechadas, ou seja, é aberta quando o pesquisado
pode responder do jeito que quiser, sem alternativas a escolher
preselecionadas, ou fechada quando o pesquisado tem que escolher entre
determinadas respostas sugeridas no questionário pelo pesquisador.
Entrevista – O
pesquisador escolhe determinadas pessoas para, por meio de uma conversa, obter
informações necessárias à sua pesquisa. A entrevista pode ser de forma dirigida
ou não dirigida. A entrevista é drigida quando existe um roteiro a ser seguido,
e quando o entrevistado pode falar livremente, então trata-se de uma entrevista
não dirigida
Documento – De
acordo com a norma 6.023 da ABNT[5],
documento é qualquer suporte que contenha informação registrada, formando uma
unidade, sem modificações, que possa servir para consulta, estudo ou prova em
uma pesquisa.As fontes documentais incluem impressos, manuscritos, registros
audiovisuais e sonoros, imagens etc.
Análise documental é aquela que é realizada a partir
de documentos, contemporâneos ou antigos, desde que sejam considerados
autênticos.Tais documentos podem ser de fontes primárias ou secundárias.
Fontes documentais primárias são o conjunto de textos
e documentos registrados em museus, arquivos públicos, bibliotecas, órgãos
públicos, censos, acervo particular, entre outros.Exemplos: correspondência,
diários, registros públicos, documentos, anúncios, textos literários,
depoimentos escritos, periódicos etc.Para a historiografia, fonte primária é
qualquer documento cuja elaboração se deu na mesma época sobre a qual se está
pesquisando.
As fontes secundárias são fontes interpretativas
baseadas ou oriundas das fontes originais ou primárias, ou seja, são compostas
de elementos derivados das obras originais. Geralmente referem-se a trabalhos
que tem o objetivo de analisar e interpretar as fontes originais.A
historiografia, por exemplo, considera fontes secundárias os documentos não
contemporâneos ao período dos fatos que narra.
Formulário – Nesse
tipo de fonte, o investigador faz as perguntas e anota as respostas dadas;
posteriormente, pode tornar os dados mais abrangentes, com comentários
complementares.
Cartografia – O
investigador utiliza-se de mapas, desenhos, gráficos e outros documentos para
assim tornar expressivas informações complexas.
Amostragem
– A amostragem é o processo no qual seleciona-se parte de um grupo para
realizar uma pesquisa demonstrativa daquele grupo social ou de toda a
sociedade. A amostragem pode ser: Amostragem
proporcional – quando a mesma proporção de entrevistados de cada categoria
é mantida, de acordo com a sua proporção na população completa. Neste tipo de
amostragem, sabe-se o total da população, e sua proporcionalidade é mantida por
sexo, idade, estado civil etc. Amostragem
aleatória – quando as pessoas que farão parte da investigação são sorteadas
ao acaso, podendo qualquer um ser sorteado.Amostragem
por conglomerado – se for feita de acordo com a região geográfica e
conforme a densidade populacional.
Levantamento
histórico – No levantamento histórico, o sociólogo utiliza-se de variados
tipos de documentos para compreender as sociedades em seus momentos históricos,
em um determinado acontecimento, e o processo de transformação que levou a
sociedade até ele. Os documentos podem ser, entre outros: vestimentas, arte,
arquitetura, testemunhos,correspodências etc.
História de
vida – Esse é um método de pesquisa bastante utilizado pela
sociologia.Nesse caso, os dados são obtidos através da história pessoal do
indivíduo, por meio de documentos pessoais, agendas e diários, além de cartas,
e sobretudo, dos relatos biográficos ou autobiográficos coletados oralmente com
a própria família, com familiares, amigos, parentes, vizinhos, ou por meio de
textos escritos de próprio punho, digitados, transcritos etc.
Análise de
dados
A analise de dados pode ser:
Quantitativa
– é aquela que se utiliza de dados numéricos para investigar algo em uma
determinada sociedade. Nesse tipo de análise, o investigador pretende chegar a
um determinado grau de precisão; porém, muitas vezes, isso não ocorre, pois nem
tudo que é objeto de estudo em sociologia pode ser analisado dessa forma
numérica.
Análise
qualitativa – o investigador não se preocupa com estatísticas e números,
seu objetivo, neste caso, é compreender determinados fatos em toda sua
complexidade e amplitude. Na análise qualitativa, o sociólogo procura obter uma
grande quantidade de informações para, assim, analisar mais seguramente os
fatos, objetivando um resultado mais confiável e preciso.
As duas análises são importantes a uma investigação.No entanto, um resultado
melhor e/ou mais seguro dependerá unicamente do bom desempenho do investigador
e das condições que o mesmo dispõe.
Atividade I
(ENADE) Leia o texto:
“Um objeto de
pesquisa só pode ser definido e construído em função de uma problemática
teórica que permita submeter a uma interrogação sistemática os aspectos da
realidade colocados em relação entre si pela questão que lhes é formulada. O
Cientista Social que recusa a construção controlada e consciente de seu distanciamento
ao real e de sua ação sobre o real pode não só impor aos sujeitos determinadas
questões que não fazem parte da experiência deles e deixar de formular as
questões suscitadas por tal experiência, mas ainda formular-lhes, com toda a
ingenuidade, as questões que ele próprio se formula a respeito deles, por uma
confusão positivista entre as questões que se colocam objetivamente aos
sujeitos e as questões que eles forumulam de forma consciente. Sem dúvida,
pode-se e deve-se coletar os mais irreais discursos, mas com a condição de ver
neles, não a explicação do comportamento,mas um aspecto do comportamento a ser
explicado”. (Pierre Bourdieu; Jean-Claude Chamboredon; Jean-Claude
Passeron.Ofício do Sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia.Petrópolis:
Vozes, 2004.)
Considerando os argumentos apresentados no texto com
relação a construção do objeto de pesquisa nas ciências sociais, assinale a
opção incorreta.
A-) Os discursos e problemas sociais já se encontram
previamente elaborados para os sujeitos sociais; cabe ao cientista social,
durante a realização de uma pesquisa empírica, interpretar os dados e
informações orientando-se pela problemática teórica pertinente.
B-)Objetos de pesquisa, problemas teóricos, hipóteses e
metodologias de investigação são partes constitutivas dos projetos de pesquisa
nas ciências sociais e visam criar uma situação de distanciamento
epistemológico diante da realidade a ser investigada.
C-)Todos estão sujeitos ao exercício de uma observação
espontânea da realidade, ao passo que a observação do cientista social se
diferenciará das demais pela sensibilização de seu olhar pelas teorias sociais
disponíveis.
D-)Métodos e técnicas de pesquisa como observação
participante, pesquisas de opinião, questionários e entrevistas, aplicados aleatoriamente
e sem orientação de uma problemática teórica, contribuem pouco para a
construção de uma perspectiva sociológica acerca de um dado objeto de pesquisa.
E-)A metodologia
das ciências sociais busca uma reprodução do senso comum na transformação dos
problemas sociais como problemas de pesquisa.
A alternativa correta é a E porque as metodologias utilizadas pela Sociologia não se interessam pelo senso comum e sim pela pesquisa científica para obtenção de informações mais seguras.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
_______________. Crises da República. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BOURDIEU, Pierre.O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1989.
CARRARA,Sérgio…[et al]. Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.
CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução a ciência da sociedade.São Paulo: Moderna, 2005.
CUNHA, Manuela Carneiro da. “Etnicidade” IN: Antropologia do Brasil. SP: Brasiliense, 1987.
ELIAS, Nobert. Introdução a sociologia - título original: What is sociology? – Tradução Maria Luiza Ribeiro Ferreira – Edições 70: Portugal, 1980.
GIDDENS, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005.
HALL, Stuart. Da diáspora – identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2003.
MARX, Karl. O manifesto do partido comunista. Petrópolis: Editora: VOZES, 2000.
___________. O capital.São Paulo: Nova Cultural, Círculo do livro, 1996.
MORTARI, Claudia. Antropologia cultural e multiculturalismo / Claudia Mortari[et. al.]. - 2ed. - Florianópolis (SC) : UDESC: FAED : CEAD, 2002
OLIVEIRA, de Luiz Fernandes; Costa, da Ricardo Cesar Rocha.Sociologia: o conhecimento humano para jovens do ensino técnico profissionalizante.1ª Ed. Petrópolis,RJ: Catedral das letras, 2005.
Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. 2ª edição, Governo do Estado do Paraná.
VASCONCELOS, Ana.Coleção base do Saber: Sociologia.1ª Ed. – São Paulo: Rideel, 2009.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília : Editora da Universidade de Brasília, 1998, Vol I.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília : Editora da Universidade de Brasília, 1999, Vol II.
___________. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan,
1982.
___________. Sobre a universidade: o poder do Estado e a dignidade acadêmica. São Paulo : Cortez, 1989.
WEBER, Max. Os Três Tipos Puros de Dominação Legítima. In COHN, Gabriel (org). Max Weber – Sociologia. São Paulo: Ática, 1982.
WEBIBLIOGRAFIA:
Wikipédia enciclopédia livre / Brasil
< http://pt.wikipedia.org/wiki> . Acesso em 5 de janeiro de 2011.
Cola da web - < www.coladaweb.com/>. Acesso em 5 de janeiro de 2011.
Info escola - <www.infoescola.com>. Acesso em 5 de janeiro de 2011.
<http://www.culturabrasil.pro.br>. Acesso em 5 de janeiro de 2011
[1] Os
sofistas foram os primeiros filósofos do período socrático. Esses se opunham à filosofia pré-socrática dizendo que estes ensinavam
coisas contraditórias e repletas de erros que não apresentavam utilidade nas
polis (cidades). Dessa forma, substituíram a natureza que antes era o principal
objeto de reflexão pela arte da persuasão.
Os
sofistas ensinavam técnicas que auxiliavam as pessoas a
defenderem o seu pensamento particular e suas próprias opiniões contrárias
sobre o mesmo para que dessa forma conseguisse seu espaço. Por desprezarem
algumas discussões feitas pelos filósofos, eram chamados de céticos até mesmo
por Sócrates que se rebelou contra eles dizendo que desrespeitavam a verdade e
o amor pela sabedoria. Outros filósofos ainda acreditavam que os sofistas
criavam no meio filosófico o relativismo e o subjetivismo.
Dentre
os sofistas, pode-se destacar: Protágoras, Górgias, Hípias, Isócrates, Pródico,
Crítias, Antifonte e Trasímaco, sendo que destes, Protágoras, Górgias e Isócrates
foram os mais importantes. Estes, assim como os outros sofistas, prezavam pelo desenvolvimento do espírito crítico e pela capacidade de
expressão. Uma conseqüência importante que se fez pelos sofistas foi a abertura
da filosofia para todas as pessoas das polis que antes era somente uma seita
intelectual fechada formada apenas por nobres.Protágoras difundiu a frase: “O
homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das
coisas que não são, enquanto não são”. Por meio dela e de outras, foi acusado
de ateísta tendo seus livros
queimados em praça pública, o que o fez fugir de Atenas e refugiar-se em Sicília. Fonte :
[2]Atribui-se
a ele, também a criação do lema –saber é poder.Segundo Bacon, a ciência deveria
valorizar a pesquisa experimental, tendo em vista proporcionar resultados
objetivos para o homem.O método indutivo de investigação, baseado na observação
rigorosa dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas:
Observação da natureza para a coleta de informações; Organização racional dos
dados recolhidos empiricamente;
Formulação
de explicações gerais [hipóteses] destinadas à compreensão do fenômeno
estudado; Comprovação da hipótese formulada mediante experimentações repetidas
em novas circunstancias. A grande contribuição de Francis Bacon
para a historia da ciência moderna foi apresentar conhecimento cientifico como
resultado de um método de investigação capaz de conciliar a observação dos
fenômenos , a elaboração racional das hipóteses e a experimentação controlada
para comprovar as conclusões obtidas.
Fonte: http://breviariodasideias.blogspot.com/2008/11/francis-bacon-o-mtodo-experimental.html
[3] Ideologia: Segundo Marx e Engels, o termo
se encaixa na tradução de “falsa consciência”, ou seja, um
conjunto
de idéias falsas que
justificavam o domínio burguês e camuflava a existência da dominação desta
classe sobre a classe trabalhadora.
[4] Socialismo: Pressupõe
uma sociedade na qual os meios de produção pertençam a todos os
seus membros. Para tal, o sistema capitalista deveria ser
superado, deixando de existir a propriedade privada e passando a
existir a “propriedade coletiva”.
[5] ABNT é a
sigla da Associação Brasileira de normas Técnicas
muito bom este texto um belo resumo referente a materia de sociologia do 1 ano do ensino medio, foi bastante útil.
ResponderExcluirTexto otimo,vai me ajudar bastante,muito obrigado.
ResponderExcluirOlá, como vai? Poderia disponibilizar esse material em arquivo *.docx (Word) ou em *.pdf (adolbe)?
ResponderExcluirQueria um conteúdo falando sobre identidades regionais no Brasil
ResponderExcluir